segunda-feira, 4 de maio de 2009

Boal – O homem que inventava o futuro









No dia 02 de maio, veio a falecer aos 78 anos, o diretor, dramaturgo e teórico Augusto Boal, vítima de insuficiência respiratória, sofria de leucemia e estava internado desde o dia 28 de abril.

O filho do Padeiro, como se intitulou em sua autobiografia Hamlet e o filho do padeiro, criador do Teatro do Oprimido, esteve entre os indicados ao Prêmio Nobel da Paz 2008. Não ganhou, mas no mesmo ano recebeu o prêmio da Fundação Príncipe Claus para a Cultura e o Desenvolvimento, entregue pela Família Real holandesa. No Brasil, nunca foi tão difundido quanto no exterior, em Nova Iorque , por exemplo, existe até o dia do Teatro do Oprimido, proclamado pela Prefeitura.

Augusto Boal foi um dos mais importantes criadores de teatro do século e o seu método de trabalho é realizado em mais de setenta países, em diversas áreas como educação e movimentos sociais. Os grupos de Teatro do Oprimido ajudam milhões de pessoas ao redor do mundo a afirmarem sua cidadania nas lutas contra todo desrespeito aos Direitos Humanos.

Uma das modalidades de Teatro do Oprimido mais utilizadas, segundo a Professora Drª Sílvia Balestreri, incentivadora da criação do CTO-Rio, é o Teatro-Fórum. Veículo de ativação e mobilização não apenas na hora de ser apresentado e de se convidar a platéia a intervir na cena, quando ela toma lugar dos protagonistas para propor alternativas à situação mostrada, mas também no processo de criação e montagem de peças, pois há confrontos com questões que reviram qualquer possibilidade de postura cristalizada.

Para se ter uma idéia da relevância de seu trabalho, Boal lembra que trinta dias após a tragédia das torres gêmeas do World Trade Center começou uma oficina no Teatro Laboratório do Oprimido em Nova Iorque com os jovens próximos do local onde ainda estavam soterrados seis mil mortos. Com cautela para não provocar emoções dolorosas, percebeu que o medo era a tônica do que brotava nas cenas. Um medo desvelado pelo teatro que possibilitava compartilhar os anseios e vontades oprimidas e não estava restrito a tragédia recente, mas ao desamparo do humano frente a insegurança no mundo. Constatou Boal que a verdade é terapêutica, jovens aprenderam a ver o mundo além de suas fronteiras praticando o teatro, o diálogo, queriam conquistá-la. Perplexos, buscavam sua verdadeira identidade, escamoteada pelo mentiroso discurso político e pela mídia censurada.

O embaixador do teatro pela UNESCO Augusto Boal inventava o futuro, por que via mais além. No discurso de homenagem ao dia do teatro Boal disse: Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!

Márcio Silveira dos Santos