quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dia 05/12/2010 – Domingo / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

O dia começa com a chegada de muitos barcos para os festejos, são barcos de três andares lotados de pessoas, percebe-se pela quantidade de redes esticadas que muita gente pernoitou no barco. Estas embarcações de passageiros sempre chegam com o som mecânico no volume máximo. O Tecno brega é o dominante nos auto-falantes.
No meio da manhã seu Zé Ribeiro recebe visita de parentes, logo depois Dona Branca, que havia ido sexta-feira para Porto Velho de ônibus, chegou de volta. Povo reunido logo Pão de Queijo foi convocado para fazer uma churrascada. Na hora do almoço tudo assadinho, como todo bom gaúcho sabe fazer, tínhamos carne de gado, frango, peixe (Bodó) e lingüiça. Todos comem fartamente.
Após um descanso nas redes, como a irmã não veio para fechar as apresentações na casa de recuperação, o povo resolve ir a um igarapé se banhar e espantar o calor insuportável. Eu, como sempre, fico no barco finalizando o diário de bordo, pois geralmente escrevo ferozmente rabiscando no caderno, alguns dizem que estou psicografando, para depois passar muitas páginas a limpo, redigindo melhor no notebook. Os textos antes de irem na integra para o blog do Manjericão passam por uma revisada da Anelise, já para o Blog do Banzeirando o Thallisson sintetiza.
Enquanto digitalizo os textos, a pequenina Jordana me faz companhia e ficamos contando a quantidade de pipas no ar, umas quinze, assim o céu de Humaitá fica multi colorido em dia de festejos. Haviam muitos botos Rosa e Tucuxi no entorno até um rapaz resolver brincar com seu Jet ski! Chicão, Vrena e Pão de Queijo assistem a grande partida de futebol do campeonato brasileiro numa TV de 24 polegadas no segundo piso do barco. Jogo decisivo entre Fluminense e Guarani, se o Flu ganhar é campeão brasileiro de 2010. Finalizo os textos enquanto o Flu se torna campeão ganhando de 1x0 e meu time, o Grêmio, goleia o Botafogo ficando em quarto no campeonato e com grandes chances de jogar a Taça Libertadores da América de 2011.
Nesta tarde estive olhando por alto os e-mails, muitos mesmo, fiquei feliz que nestes três dias em Humaitá pudemos postar textos e mandar alguns e-mails para os rueiros do Brasil. Está muito difícil acessar até na lan house, a internet é muito lenta por aqui, pois é via ondas de rádio e funciona de vez enquando. Chicão diz que é muito bom que eu esteja aqui, devido às funções que venho desempenhando junto ao MINC, como representante da sociedade civil junto com mais articuladores da RBTR. Assim posso vivenciar o quanto é difícil o acesso às comunicações, principalmente ao mundo virtual. Na contra mão, o governo federal, a poucos dias lançou editais cuja inscrição é somente virtual, pensando que estariam facilitando e realizando inclusão quando na verdade estão num processo de exclusão em massa dos povos da Amazônia legal. As pessoas não têm acesso, quando têm são em cidades pequenas cuja lentidão do sistema nos revolta.
Pra mim é extremamente importante constatar ao vivo esse isolamento, essa precariedade que ainda impera num país tão rico e de uma diversidade incrível. Como sou integrante de instâncias do MINC como do Colegiado Setorial de Teatro, do Comitê Técnico do Fundo Nacional de Cultura e mesmo sendo suplente no CNPC (Conselho Nacional de Políticas Culturais) por vezes vou às reuniões, posso assim fundamentar melhor minhas argumentações quando é preciso defender a distribuição de verbas e premiações que abranjam de fato todo o Brasil. Tenho por vezes participado de comissões de seleção de editais, bem como de Festivais, Mostras e seminários, o que me proporciona uma noção mais abrangente do que se produz e de quem somos na atualidade do Teatro de Rua do país. Por exemplo, fazer parte da comissão do Programa Mais Cultura – Amazônia Legal possibilitou que conhecesse uma pequena parte da produção de nove estados brasileiros, há muita gente fazendo teatro em pequenas cidades do interior. Estes companheiros de oficio precisam urgente de uma oportunidade maior de participação, uma visibilidade digna para o que desenvolvem. Temos muito trabalho pela frente, mas juntando a força de todos através de novas formas de integração mudaremos a situação atual. Acredito que a Rede Brasileira de Teatro de Rua, o Movimento Escambo do Nordeste e a Rede Teatro da Floresta, são os caminhos possíveis, ainda em definição de seus propósitos e objetivos, para uma outra “margem” de pensamento do fazer teatral na atualidade.
Como este Diário de bordo e terra do Banzeirando tem me ocupado muito, mas não é um fardo, é um prazer poder registrar e refletir através da escrita o que estamos vivenciando aqui, então pouco vou à Lan House e o meu 3g da vivo não funciona aqui. Mas Anelise, Nivaldo e Samir, que tiveram mais tempo na lan house neste domingo, deram retorno dos emails dos companheiros da RBTR sobre o Diário de bordo e terra do Banzeirando. Poxa! É um regozijo! Todo reconhecimento de nosso trabalho sempre é bem vindo! Agradecemos aos companheiros de oficio.
Na tardinha o pessoal volta do Igarapé muito animado e após o jantar fomos para a festa da padroeira. Lá estava outra banda de Tecno brega, desta vez menor ainda, havia só um casal de vocalistas e um tecladista, rodeados de potentes e ensurdecedoras caixas de som. É sempre assim, após a missa salmodeada de cânticos e orações, vem a vez do Tecno brega mal tocado com seu peculiar chiado de água fervendo na chaleira. Toda festa tem seu lado sacro e profano!
O sono vem e amanhã o trecho de água é maior, pois será o maior deslocamento sem parada, um dia inteiro navegando no rio Madeira até o Distrito de Auxiliadora.
Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

Dia 04/12/2010 – Sábado / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

O dia amanhece nublado, tomamos café da manhã com a temperatura despencando à medida que o céu fica pesado, escurece muito. Lá pelas 09:30 o vento ganha força e logo todos se agasalham, Léo já levantou de casaco e Chicão de jaqueta grossa. Lembramos do frio que fez durante o Festival Amazônia Em Cena na Rua em Julho deste ano em Porto Velho. Rimos muito quando me lembrei de um dia em que o Nivaldo e o Claudio, de Macapá, tremiam numa manhã do Seminário de Teatro realizado na praça das caixas d’água. Foi à manhã mais fria em muitos anos na cidade e região. Até o Kuka, de Salvador, andava por lá com um poncho (vestimenta usada pelos gaúchos na lida do campo durante invernos rigorosos) emprestado que o Chicão havia comprado em Porto Alegre em Maio durante o 7º Encontro Nacional da Rede Brasileira de Teatro de Rua. O que me fez lembrar do sul, do frio desgraçado que faz por cinco meses e que nos demais meses por vezes esfria também. Começo a entender mais e mais esta diversidade gigantesca de climas, culturas, tradições, hábitos e estilos de vida do brasileiro. Não há como compreender tudo isso sem vivenciar de fato, com mais profundidade e causa. Vivemos aprendendo!
A partir de hoje estabeleço mais uma atividade, com uma caderneta vou começar a anotar detalhes, trejeitos, frases, vontades, frustrações, histórias e diálogos do Pão de Queijo, o Rogério gaúcho. Vou escrever uma peça de teatro a partir ou sobre ele. Pão de Queijo executa a função de faz tudo, um cara simples e malandro que se assemelha muito com o Arlequim, personagem da Commedia dell’arte italiana. O cara tenta ao mesmo tempo servir o comandante (Pantaleão) e sua equipe (Briguelas, Zannis, Enamorados) enquanto procura nos guiar nas localidades, tem pinta de quem já navegou muito, mas não sei se é verdade. Diz que conhece tudo, fala do comércio, das pessoas e animais da floresta, histórias de pescarias, trabalho, patrões, mulheres, comidas, etc. Quando chegamos aqui em Humaitá, veio ao barco um menino de 12 anos com uma caixa de isopor vendendo caquí, que é uma espécie de suco num saquinho como o sacolé (no RS) ou din din (em Rondônia), mas aqui é chamado de caqui. Em menos de duas horas o menino já estava dando informações pro Pão de Queijo, dizendo onde tinha açaí e manga, como estava o movimento na cidade, detalhes da festa da padroeira. Em pouco tempo nosso Arlequim já sabia de tudo. Não bastando às informações logo o menino estava fazendo favores também, pois quando a Dona Branca ordenou que Pão de Queijo fosse comprar açaí este mandou o menino buscar, hehe, enquanto ficava arlequinando por aí. O cara é um personagem perfeito, o único real de carne e osso dentro desta barca mambembe que nos tornamos como as companhias mambembes na Europa entre os séculos XV e XVII.
Ao cair da noite, Chicão chega com a informação já esperada, fora muito difícil negociar, o padre e demais instâncias visavam a penas suas atividades que na maioria previa lucro total de vendas. Explico melhor. A paróquia desenvolveu nestes 134 anos de festa da Padroeira de Humaitá Nossa Senhora Imaculada Conceição, uma estrutura voltada para uma economia de arrecadação. Há nos entorno da Igreja e da praça uma série de bancas e barracas de vendas dos mais variados produtos. De brinquedos a lembrançinhas de santos e times de futebol. O negócio é tão lucrativo que chegam trabalhadores de cidades distantes como de Porto Velho por exemplo. No entanto há a proibição de venda de bebidas alcoólicas na feira, ficando reservado um canto próximo a delegacia de polícia para as tendas de cervejas e coquetéis mais fortes junto com um palco para bandas e som mecânico, mais os banheiros ecológicos do evento. Ali rola de tudo!!!!
Quando Chicão informou que somente o Léo apresentaria neste sábado e que no domingo não teria, justamente devido aos motivos que falei anteriormente, ficamos chateados. Mas quando fomos participar da produção da intervenção do Afonso Xodó passamos a entender melhor. Após a missa das 21h há um jantar, só que não é um jantar comum, achávamos que era um jantar com bingo, mas na verdade é uma janta-leilão. Durante algumas horas todos ficaram numa espécie de pátio cercado por muros gradeados com coberturas nas laterais. No centro há um palco alto onde ficava um senhor com microfone arrematando o leilão: - Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! Vendida para o Senhor fulano de tal. No chão junto às mesas espalhadas ficavam mais quatro senhores, todos com microfones sem fio, eram leiloeiros profissionais, contratados pela paróquia. Eles realizavam um leilão da comida. Denominam um prato de papelão com uma galinha assada e verduras de “penosa”. Diziam: - Esta penosa agora sai por dez reais o lance inicial, quem dá mais? E assim ocorria o leilão chegando ao valor de sessenta reais cada “penosa”. Depois veio a sobremesa, um pudim, que também é leiloado chegando ao valor de cinqüenta reais. As famílias precisavam comprar esses pratos principais para comer decentemente junto com os demais alimentos complementares que são entregues pelos garçons. Há o status visível naqueles que compram, pois seus nomes são destacados no sistema de som de todo local.
Fizemos uma pressão junto aos organizadores para que Léo começasse logo, pois o chá de banco estava demais. Eu, Nivaldo, Chicão, Sidnei, Thallisson, estávamos com a camiseta do Projeto fazendo um paredão frente ao palco para lembrar da nossa intervenção. Chegada a hora Léo foi anunciado e lá veio Xodó chamando a atenção e cumprimentado o público arredio. Léo, sagazmente, foi pegando um por um dos leiloeiros para ajudar nos números de mágica, pois no inicio ficavam fazendo comentários ao microfone. Logo se calaram e Léo com maestria diante de tanta tensão para estar ali realizou uma brilhante intervenção. Tiramos o chapéu pra esse carioca! Particularmente gosto quando vejo um ator/palhaço colocar a tensão do ambiente na agressividade comedida de sua atuação. Léo em determinado momento foi pro grotesco e chegou junto a uma mesa de um grupo de senhoras, pegou o garfo e deu umas garfadas na comida, comeu falando o quanto era boa a comida. Mastigava e perguntava se ela havia gostado da comida da festa e se iria comer mais. Foi hilária esta cena kamikaze. Era o palhaço dilacerando os bons costumes do evento, todos riam muito desta extrapolação do comum. Léo ampliou assim o quanto pode parecer ridículo estes momentos em que um artista está mostrando seu trabalho e todos comem e falam sem percebê-lo. Como foi permitida somente uma intervenção de vinte minutos no intervalo do leilão, Léo finalizou lavando nossa alma e provocando a atenção do público que não desgrudava mais o olhar das proezas do Xodó.
Anelise e Tancredo junto com Chicão tentaram fechar apresentações do Manjericão e do Justino para amanhã. Falaram com uma irmã da paróquia sobre uma casa de recuperação que haverá uma festa familiar para os internos. Ficamos no aguardo para amanhã quando nos dará retorno.
Mais tarde visitamos um local chamado Coxa Morena, um sítio enorme com um casa de shows. Era a noite do forró, havia uma banda constituída de três vocalistas um baterista e um tecladista. É impressionante o quanto o tecladista tomou conta de várias funções nos shows depois do surgimento do Tecno-brega! No inicio sentamos pra refrescar a garganta e fiquei elogiando o pique do sanfoneiro. Depois de um tempo fui na área coberta para ver a banda, pois não sei dançar forró (uma vergonha!) e lá não encontrei uma banda completa, nem o sanfoneiro, só o tal tecladista fazendo loops de música pra música com aquela chiadeira estridente terrível do tecno-brega mal tocado! Mas em compensação os vocalistas arrebentaram, não deixavam o público parado, muito bons mesmo. Não ficamos muito tempo e logo voltamos pra festa da igreja, mas como a violência estava escancarada com brigas e polícia correndo com as viaturas resolvemos ir para o barco. Descemos o barranco com todo cuidado, pois havia chovido e estava um sabão, se escorregasse só pararia uns vinte metros depois nas águas do rio Madeira. Mas havia uma segurança na descida, o Nivaldo pegou o hábito de construir com enxada as escadarias nas localidades sem escadas de madeira. Até o momento esta foi a melhor de todas, Nivaldo virou o nosso arquiteto de escadas naturais.

Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

Dia 03/12/2010 – Sexta – Feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

Neste dia manteremos a função produção local e atualização dos ambientes virtuais, pois a internet na cidade é muito lenta. Devido à cidade estar cheia de visitantes também ficou concorrida a lan house. Na produção das apresentações Chicão procura negociar com os homens do poder para participarmos das atividades do festejo, mas parece que não têm interesse. Essas instâncias nunca entendem direito o valor da arte do teatro nestes eventos, o mais cômodo é dizer não, e quando dizem sim relegam o teatro à margem das atividades principais. Chicão negocia pelas bordas, amanhã teremos apresentações dentro de determinadas atividades. Há um bingo que ocorre o tempo inteiro, nos intervalos haverá intervenção de Léo e Tancredo.
Dia chuvoso, mas assim mesmo chegam muitos barcos com pessoas e trabalhadores para a festa. Nestes dias em que não há apresentações, só produção destas, aproveitamos pra conversar sobre muitos assuntos que tangem o universo do teatro. Hoje por um tempo fiquei conversando com o Vrena, artista plástico, professor de teatro e nosso pesquisador de plantão, sempre observando e analisando as relações entre os artistas do Banzeirando e as localidades visitadas. Vrena estava mirando uma paisagem, perguntei o que analisava e disse que estava guardando no cérebro esta imagem para pintá-la. Era uma paisagem que começava com quatro canoas próximas ao nosso barco, depois as embarcações de tamanhos médio e grande, terminando ao fundo com as margens distantes do rio, onde se via antes a ponte do cais da cidade. Disse que pintaria diferente, como se fosse há muitos anos atrás, com o barranco cheio de árvores frondosas e sem a ponte e o cais. Percebi que o Vrena, ambientalista e testemunha ocular das mudanças do rio, queria resgatar na sua pintura aqueles tempos em que a Floresta Amazônica não tinha sofrido ainda a violência do chamado progresso brasileiro.
Vrena descreveu com profundo conhecimento os traços luminosos da paisagem, destacando o contraste do claro e escuro. Dali foi um pulo para falarmos de iluminação teatral. Discorreu sobre a importância da luz nas artes: visuais, teatro, cinema, dança, fotografia, e o quanto os artistas deixam de lado sua importância. A luz é definidora do que o espectador vai ver e imaginar a partir do que vê. Falei que me lembrava das aulas da disciplina de cinema, há muitos anos na graduação de teatro na UFRGS com o Professor Sergio Silva, quando dizia que a iluminação é tudo! Citava desde a frase célebre da bíblia “Fiat Lux!”, Faça-se a luz! Até o cineasta Kiarostami e os primores detalhistas de sombra e luz de seus filmes. Logo Vrena discorreu sobre a Semiótica da luz e do teatro, e os respectivos pontos de vistas do que estamos realizando aqui. Buenas, encurtando assunto, pois levaria laudas e mais laudas, literalmente foi uma aula à beira do rio Madeira com este mestre.
À noite vamos curtir o movimento da festa, saímos todos juntos, pois é aniversário da Vânia Passos, filha do comandante. Bebo uma cerveja suja, ninguém é de ferro, na folga a gente bebe algo mais forte. Cerveja suja, que só tomei conhecimento em Rondônia, é a mistura de cerveja com limão (forte) gelo e sal (às vezes demais). O curioso é que em toda borda do copo há sal também, lembra muito o processo de beber tequila. Então a pessoa quando bebe na borda do copo toma aquela mistura mega salgada, até que fica boa, hehe, ou se preferir menos salgada pode também usar canudinho. Mas não consigo tomar duas! Chega, já é hora de voltar para a barca banzeirando, amanhã é outro dia.
Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

Dia 02/12/2010 – Quinta – Feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

Acordo com o barco já em deslocamento para Humaitá, atravessei a fronteira entre os dois Estados dormindo. Depois de algumas horas navegando e observando o crescente número de dragas sugando o fundo e os barrancos do rio, chegamos a Humaitá. Cidade grande com um porto grande e em pleno inicio dos festejos da Nossa Senhora da Imaculada da Conceição, padroeira da cidade. Depois de certa dificuldade para aportar e conseguir instalar o cabo de energia elétrica em terra, todos rumam para cidade para conhecer enquanto o Chicão analisa os locais para apresentarmos no fim de semana. O dia de hoje é utilizado para por em dias as novidades dos parentes e amigos, bem como para ver emails, e outras questões virtuais e postar estes relatos, fotos e vídeos nos blogs do Banzeirando: projetobanzeirando.blogspot.com, no blog do Grupo Manjericão: grupoteatralmanjericao.blogspot.com e no site do Teatro da Floresta: http://redeteatrodafloresta.ning.com
À noite depois de uma chuva intensa, vamos à praça perto da Igreja Matriz acompanhar a festa da padroeira, descontraímos por algumas horas. Nivaldo comenta que estava conversando com um morador da cidade e ele falou sobre um pessoal que havia chegado, com camisetas do Banzeirando, que era na verdade fachada pra chegar aqui e extrair ouro e outros produtos da região. Esse é um alerta do quanto eles desconfiam de tudo, porque realmente nota-se pelas dragas e relatos, alguns já citados neste diário de bordo e terra, chegam muitos forasteiros falando e agindo com propósitos que na primeira vista parecem benéficos, mas na verdade são isso mesmo, falsários que vieram pra surrupiar as riquezas da Amazônia. Estamos atentos.

Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

Dia 01/12/2010 – Quarta – Feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

Último dia no Distrito de Calama e no Estado de Rondônia. Após o café da manhã reforçado com tapioca, doce de leite, salgados e torradas fomos para a Escola Ana Grangeiro. Hoje Léo e Nivaldo (Afonso Xodó e Dorminhoco) fazem a intervenção às 10h e 15h. Foi uma caminhada longa por uma ponte de madeira, velha com tábuas faltando. Todo cuidado era pouco, se ficar muito tempo olhando pra paisagem pode vir a cair de uns 10 metros de altura. Quando o rio transborda, lá pelo final de março, o pessoal consegue pescar de caniço nesta ponte com a água a um metro de distância. Somei as alturas do barranco e da ponte de madeira, o rio chega aproximadamente a 40 metros em tempos de cheia! Esta parte do distrito é mais antiga que a outra que o Manjericão apresentou ontem. Aqui acontecem os festejos de São Francisco e Nossa Senhora Aparecida, nos meses de outubro e novembro. Refletindo sobre a cidade se percebe mais um descaso dos governos. Este lado onde acontecem os eventos culturais a ponte esta velha e comprometendo a vida dos moradores. Na outra extremidade há uma ponte de ferro, firme e com cobertura em toda sua extensão, com uma placa que fala em reforma para breve ao custo de 124 mil reais. Ficamos impressionados com a superfaturação! Enfim, isto é Brasil!
Fomos até a escola, largamos o material e caminhamos no entorno até o local dos festejos. Uma estrutura típica de festejos do interior com barraquinhas de bebidas e brincadeiras, espaço de feira e no centro o pau que serve de mastro central para as bandeirinhas. O espaço a noite funciona, pois há muito lixo no entorno das barracas e nas proximidades do barranco do rio. Aliás, a questão do lixo é um problema seriíssimo nas localidades por onde passamos. Muito lixo mesmo! Sempre procuramos conscientizar por onde passamos, mas é preciso uma educação contínua.
Voltando a escola, em minutos começou a apresentação do Léo como Xodó, depois foi chegando o Dorminhoco, do Nivaldo. Depois da função partimos para o barco almoçar, no caminho brincávamos que a apresentação foi lenta, vagarosa. Foi o décimo dia e o pessoal resolveu propositalmente apresentar no tempo da localidade, no ritmo dos ribeirinhos, bem no balanço da rede. Foi divertido. À tarde o pessoal foi para a apresentação e fiquei escrevendo os relatos, analisando as fotos e vídeos que fiz.
A noite chega e o quiosque central próximo a Igreja matriz já está preparado com refletores, mesa de som, notebook, para as apresentações do velho Justino e Guadalupe. Cai uma chuva e colocamos o público dentro do Quiosque, em torno de quarenta pessoas que aumentou depois da estiada da chuva. Justino chega e sai salpicando suas poesias longas e brincando com o público. Na seqüência quando Guadalupe entra em cena já temos quase 200 pessoas. Encerrada a apresentação os atores conversam com o público, falam do projeto Banzeirando e da receptividade da cidade.
Desprodução feita, jantamos e nos preparamos para partir amanhã cedo para a Cidade de Humaitá, localizada no Estado do Amazonas, estaremos saindo finalmente do Estado de Rondônia depois de 10 dias banzeirando por ele. Há grande expectativa de chegar a Humaitá, porque será a primeira vez depois do início da Jornada que teremos novamente as comunicações de celular e internet.
Vamo que vamo!!


Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão