terça-feira, 1 de setembro de 2009

CARTA ABERTA AO VENTO SUL - Contribuições da Rede Brasileira de Teatro de Rua ao Floripa Teatro



Estimada equipe da coordenação do Floripa Teatro - 16º Festival Isnard Azevedo e demais integrantes da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. A Rede Brasileira de Teatro de Rua pretende através desta, além de ressaltar o fomento que o festival promoveu ao teatro de rua de forma mais direta - tanto que proporcionou o 2º Encontro regional da Rede - objetivar contribuições para melhorias e adequações mais específicas na estrutura, na recepção e produção do evento para os artistas e seus espetáculos de teatro de rua.
Desde os tempos dos Gregos o teatro prima por um contato mais direto e necessário com a platéia, para isto sempre esteve, nos mais de dois mil e quinhentos anos da história do teatro ocidental, presente nas ruas e espaços abertos da Polis. Nos dias de hoje no Brasil, há um número inestimável de grupos que se voltam para o espetáculo a céu aberto, cercado por um público movediço e transeunte, ávido por arte, que forma rodas propícias a nossa prática teatral. Esta formação de roda proporciona uma empatia não só do espectador com o espetáculo, mas sobretudo da relação entre os seres humanos - ator e público.
Vivemos num país livre e democrático e não há melhor lugar do que estar nas praças, ruas e parques para exercitar a democracia da arte do teatro. A essência mais pura e verdadeira do nosso trabalho, do contato humano, que assim se efetiva. O Brasil possui uma diversidade gigantesca de estilos, costumes, tradições e também de climas. Nos Estados do Sul há um clima úmido e chuvoso por esta época, o que torna por vezes difícil a prática do teatro de rua.
A organização do Floripa Teatro - 16º Festival Isnard Azevedo em suas últimas edições atenta a este clima, providenciou tendas de lona plástica branca para os locais de apresentações do teatro de rua, descentralizados e na região central na Alfândega. Nas tendas totalmente fechadas havendo apenas uma possibilidade de entrada e saída, havia arquibancadas e um tablado baixo, todos forrados com material semelhante a carpete, uma estrutura/gaiola de iluminação de quatro torres largas interligadas, tenda pequena como camarim, dois banheiros ecológicos e equipamento de som, além de segurança e uma pessoa da produção do evento. No entanto, gostaríamos de dizer que não era necessário nestas tendas tal aparato técnico. Poderiam ter quatro grandes refletores set light, sem filtro colorido, nos quatro cantos da estrutura da tenda, dando assim uma luminosidade mais homogênea na área total da atividade, suficiente para a visualização do que foi pensado para o espetáculo sobre a luminosidade do dia, além de permitir que atores e público se vejam, fundamental para o teatro de rua! Como choveu só alguns dias, poderia não ter o pano de roda (lonas dos quatro lados) que atrapalham a visibilidade dos transeuntes, esquenta muito e impede uma melhor ventilação e entrada de luz natural. As arquibancadas se forem uma condição do Festival que não abre mão, poderiam ser posicionadas de uma forma circular ou uma arena semicircular, pois assim teríamos melhor visualização por parte do público sem a necessidade da permanência de torção do pescoço durante todo espetáculo. Mas repetimos, melhor sem arquibancada, pois permite uma relação mais horizontal. Muitos grupos utilizam o público como camarim, como marcação de entradas e saídas de cenas, produzindo uma grande interação entre ambos e isso se perde com arquibancadas. A lona deveria ser uma opção apenas em caso de chuva, já que os espetáculos foram criados para o espaço aberto, valorizando ainda mais esta modalidade teatral bem como a cidade, espaço e cenário dessas representações.
Sabemos da atenção da organização em propiciar ao público melhores condições de apreciação estética dos espetáculos de rua, mas quando se coloca uma armação de iluminação baixa, pois com tantos refletores (em torno de 40) e próximos demais do elenco em alguns locais, ofuscaram os olhos dos atores, bem como prejudicaram na estética dos espetáculos. O ideal é a organização do evento permitir a autonomia dos grupos e artistas de Teatro de Rua de só utilizarem a infra estrutura necessária para o desenvolvimento dos seus espetáculos. Com base na diversidade de montagens nacionais de teatro de rua, afirmamos que somente o grupo sabe o que é melhor para sua apresentação e não alguém de forma autoritária da comissão organizadora. Os grupos selecionados enviaram seus vídeos e uma lista de necessidades, então não precisariam ficar se justificando durante o Festival e nem se submeter ao desrespeito que alguns passaram.
Gostaríamos de ressaltar também, que muitos grupos não possuem grande estruturas para apresentar e exigem uma organização básica do evento: transporte, água e alguém da produção do festival, preparada para suprir as necessidades e contratempos que por conseqüência venham surgir. O que em certos momentos não se efetivou no Floripa Teatro. Um festival com a dimensão desta edição não pode de forma alguma pecar na profissionalização de sua equipe de técnicos, produtores dos locais e transportes.
O festival proporcionou além das apresentações, também oficinas, debates e trocas efetivas dos grupos de teatro de rua com as comunidades onde estavam inseridos. Mostrando o interesse da organização em promover capacitação, qualificação e reciclagem de artistas e não artistas interessados. Porém faltou uma grade de horários das apresentações que permitisse aos grupos se assistirem. Todos apresentavam às 15h e 20h engessando uma troca maior. Havia grupos de localidades diferentes e sempre que assistimos uns aos outros acontece uma troca efetiva, com sugestões e críticas construtivas vitais para os grupos de teatro.
Frisamos que não se trata de algo pessoal de um ou outro grupo, mas a voz de um coletivo nacional de teatro de rua. Queremos contribuir com a experiência dos grupos da Rede, onde há grupos com 10, 15, 20 e mais de 30 anos de estrada e sabem do que estão falando. Durante a presente década temos relatos de vários anos onde grupos tiveram dificuldades com as estruturas deste festival. Entendemos que sem parte deste material locado e que custa uma boa verba, poderia o Festival direcioná-las para o aumento dos cachês dos grupos de rua e ampliar o número de espetáculos de rua, pois há demandas de mais locais na ilha mágica de Florianópolis.
Para finalizar, como síntese do que explanamos sobre as tendas e a outra carta já encaminhada em repudio a portaria que proíbe os artistas nos faróis, citamos parte de recente artigo de Amir Haddad, um dos pilares do teatro de rua brasileiro integrante do Grupo Tá na rua, publicado no Jornal do Brasil. "As políticas públicas oficiais são extremamente privatizadoras e excludentes, e as praças e ruas cada vez mais perdem suas características de lugares públicos para o convívio urbano indiscriminado e se transformam em espaços fechados onde o cidadão não encontra abrigo. (...) Se tivéssemos tantos artistas nas ruas como temos desempregados, marginais e policia nossa cidade seria melhor. Ou será que achamos que vivemos no melhor dos mundos e que basta limpá-lo para mantê-lo em "ordem"?".

Evoé!!

Cordiais saudações;

Rede Brasileira de Teatro de Rua
Rede Brasileira de Teatro de Rua
Rede Estadual de Teatro de Rua – RJ
Movimento de Teatro de Rua – BA
Movimento de Teatro de Rua de São Paulo - MTR/SP
Rede de Teatro de Rua do Ceará
Federação de Teatro do Acre - FETAC
Alice Viveiros de Castro - diretora e Conselheira do Conselho Nacional de Política Cultural
A Cia Elenco de Ouro (Curitiba/PR)
Abel Saavedra (Seres de Luz Teatro, SP)
ABRACIRCO - Camilo Torres- Vice-presidente.
Academia Mineira de Ilusionismo- AMI - Mágico Yago
Adailton Alves - Ator
Ailton Amaral - RJ
Alaor de Carvalho
Alessandra Carvalho
Alex Machado - RJ
Alex Marinho - SP
Ana Paula Casares (RJ)
Ananda Rasuck (Companhia Circo Teatro Capixaba/Vitória/ES)
André Garcia Alvez - RJ
André Luis Soares - RJ
Andréa Cevidanes – RJ
Ane Oliva(Grupo Joana Gajuru, Maceio/AL)
Anelise Camargo Garcia (RS)
Anna Fuão - Usina do Trabalho do Ator (Porto Alegre/RS)
Arte da Comédia - PR
Barracão Teatro (Campinas/SP)
Beatriz e Leandro Calado – Campos do Jordão
Benedicto Camillo ( Ouro Preto - MG)
Brava Companhia - SP
Buraco D'Oráculo - SP
Caio Martinez – SP
CEFAC – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses
Centro Sócio-Cultural de Promoção da Cidadania – CARCARÁ (PE)
Cervantes do Brasil
Chico Pelúcio (Belo Horizonte/MG)
Cia Anjos Voadores
Cia Brava
Cia Circular – RJ
Cia de Capadócia - SP
Cia de Teatro Nu Escuro - Goiânia/GO
Cia de Teatro-Circo Lua Crescente (João Pessoa/PB)
Cia dos Inventivos de São Paulo
Cia Entropia de Patifaria - MG
Cia Mimicalado – Campos do Jordão
Cia Teatro Porão - RJ
Cia. Crônica de Teatro (Contagem/MG)
Cia. de Espetáculos Vérité (Cariacica/ES)
Cia. d'os melodramáticos – RJ
Cia. Teatro di Stravaganza (Porto Alegre /RS)
Cícero Silva - MG
Circo Dux -RJ
Circo Mínimo –SP
Circo Navegador - SP
Circo Teatro Girassol (POA/RS)
Circo Trapézio da Família Cericola (RJ)
CLAC Centro Londrinense de Arte Circense
clayton mariano
Cleber Braga (Curitiba/PR)
Coletivo Nopok do Rio de Janeiro
Como Lá em Casa - MTR/SP
Companhia 2 Banquinhos - RJ
Companhia Circo Teatro Capixaba (Vitória/ES)
Companhia do Miolo/SP
Cooperativa de Circenses da Bahia
Cooperativa Paulista de Circo – Diretoria
Crescer e Viver - RJ
Cristiano Pena – MG
Cristino Abel Saavedra - SP
Dalisa Campos (Vila Velha/ES)
Dayana Zdebsky de Cordova (Curitiba)
Diego Elias Baffi
Diego Esteves (Porto Alegre - RS)
Dilmar Messias (Circo Teatro Girassol,POA/RS)
Domingos Montagner SP
Duico Vasconcelos
Edilson Bispo (Ator,Diretor,Musico e pesquisador do Teatro de Rua, Salvador – Bahia)
Edmilson Santini - RJ
Edson de Mello (Dimello)
Edson Paulo – Ator (Buraco d´Oráculo, SP)
Elenco de Ouro (Curitiba)
Elsa Wolf
EncantaConto - Contadores de Histórias (Vila Velha/ES)
Erika e Dodô – RJ
Ermínia Silva - SP
Erro Grupo (Florianópolis/SC)
Esio Magalhães (Campinas/SP)
Estandarte Cia. de Teatro ( Ouro Preto-MG)
Fabricio Dorneles -RJ
FarsaCena Cia Teatral/RJ
Fernando Marques – ES
Fernando Sampaio - SP
Flávio Rodrigues – SP
Francisco Gaspar (nucleo pavanelli de teatro de rua e circo/SP)
Galpão do Circo (Escola de Circo de São Paulo - SP)
Gian Carlos Magno – RS
Gilvan Balbino - RJ
Grupo Arteatro – Paraty / Mangaratiba
Grupo Cutucurim - Angra dos Reis - RJ
Grupo de Teatro Rerigtiba (Anchieta/ES)
Grupo de Teatro/Circo DE PERNAS PRO AR – Canoas-RS
Grupo do Balaio - Circo Intervenção Circo do Balaio
grupo experimental de teatro vivarte
Grupo Galpão (Belo Horizonte/MG)
Grupo Garajal (Maracanaú Ce)
Grupo Joana Gajuru (Maceio/AL)
Grupo LaMínima de Circo e Teatro de SP
Grupo Off-Sina - RJ
Grupo Pé no Chão (RJ)
Grupo Primeiro de Maio - Salvador-Bahia
Grupo Quebracabeça – RO
Grupo Raízes do Porto (Porto Velho/RO)
Grupo Sítio do Jeca – SP
Grupo Tá na Rua (RJ)
Grupo Teatral Cachola no Caixote
Grupo Teatral de 4 no Ato - RJ
Grupo Teatral Manjericão (RS)
Grupo Teatro Andante
Grupo Teatro caretas – CE
Grupo Teatro de Caretas - Fortaleza – CE
Grupo Teatro Kabana (Sabará/MG)
Grupo Timbre de Galo de Passo Fundo, RS
Grupo Z de Teatro – ES
GTA-Grupo de Teatro Atula
Gustavo Pacheco( Ouro Preto - MG)
Gustavo Vierini - Mágico - RJ
Guto Pasini - RS
Gyselle Andrade Freitas
Hélio Froes – GO
Horácio Storani
HUhuhu circo teatro – Maranhão
Ifá-Rhadhá de Art' Negra - Olinda – PE
IntrépidaTrupe - RJ
Iracema Pires -RS
Jessé Duarte (Cia. Crônica de Teatro, Contagem/MG)
Joana Gajuru, Maceio-AL
João Carlos Artigos – RJ
João Novaes – RJ
João Pinheiro - MG
Josy Dantas (Icapuí-CE)
Júnio Santos (Icapuí-CE)
Junior Perim- RJ
Jussara Trindade, do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua – RJ
Leandro Hoehne - artista
Leo Carnevale - RJ
Leonardo Silva - Produtor Cultural
Licko Turle – RJ
Lilian Moraes -RJ
Liliana Marcela Curcio – SP
Lily Curcio (Seres de Luz Teatro, SP)
Lis Nobre – Grécia
Los Patos/SP
Lu Coelho – Atriz (Buraco d´Oráculo, SP)
Luanda Morena -RJ
Lucas Moreira - RJ
Luciano Wieser
Luiz Carlos Buruca - RJ
Mágico Yago (Academia Mineira de Ilusionismo- AMI, MG)
Majestade o Circo (Alagoas)
Marcelino Ramos ( Ouro Preto - MG)
Márcio Silveira dos Santos (RS)
Marcondes Mesqueu
Marcos Pavanelli (SP)
Mari Morango
Mariozinho Telles (RJ)
Marta Haas (Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, Porto Alegre / RS)
Mauro Xavier – MG
Michelle Cabral - Cia. Chegança - São Luís/MA
Michelle França
Milene Acosta - Artista circense, atriz - RJ
Movimento Escambo
Movimento Livre Leste - união de 11 grupos de circo, teatro, dança, música, performance e outras artes
NACE - Núcleo transdiscilinar de Pesquisa em Artes Cênicas e Espetaculares - Maceió – Alagoas
Naiala Rasuck Rodrigues (Companhia Circo Teatro Capixaba/Vitória/ES)
Nara Salles (AL)
Netty Palácios
Núcleo Boa Praça - RJ
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo (São Paulo/SP)
O Circo e Teatro de Rua Os Mamatchas, de Presidente Prudente-SP
O Teatro Terceira Margem - BH/MG
Oigalê – RS
Orlando Vaz Carneiro (Palhaço Bem-Te-Vi, Campinas – SP)
Pâmela Vicenta – RJ
Paulo Santana - MG
Pedro Bennaton (Florianópolis/SC)
Pedro Vinicius (Icapuí-CE)
Povo da Rua
Raquel Durigon
Raquel Franco Tapete Criações Cênicas - MCTR-MA
Reinaldo Facchini – SP
Renata Lemes
Ricardo Fruque -SP
Richard Riguetti (RJ)
Robson Mol - AL
Robson Sanches
Rodrigo Matheus - SP
Rogerio Sette Camara
Rosa dos Ventos - SP
Rosa Rasuck (Vitória/ES)
Samir Jaime (RS)
Samuel Rasuck (Companhia Circo Teatro Capixaba/Vitória/ES)
Selma Pavanelli – Atriz
Seres de Luz Teatro –SP
Silvana Abreu- atriz, diretora e produtora teatral - São Paulo/SP
Simone Pavanelli (SP)
Spasso Escola Popular de Circo - BH- MG
Sua Majestade o Circo – Alagoas
Suely Rodrigues - RO
tablado de arruar – SP
Tapete Criações Cênicas – MA
Teatro de Anônimo – RJ
Teatro de Cordel - RJ
Teatro de Roda - RJ
Teatro em Trâmite
Teatro Itinerante – RJ
Teatro Ruante
Telma Amaral (Grupo de Teatro Rerigtiba, Anchieta/ES)
Thiago Salles – Campinas – SP
Tiche Vianna (Campinas/SP)
Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (Porto Alegre / RS)
Troup Trama Circus - MG
Trupe Estação do Circo (São Carlos - SP).
Trupe Arlequin de Circo Teatro - PB
Trupe Artemanha de investigação urbana (SP)
Trupe Estação do Circo (São Carlos/SP)
Trupe Olho da Rua – SP
Trupe Popular Parrua
Trupeniquim - Cia de Circo
Tuca Cericola (RJ)
UBCI - União Brasileira de Circos Itinerantes - Wladimir Spernega – Presidente
UTA - Usina do Trabalho do Ator (Porto Alegre/RS)
Vanda Jacques – RJ
Vanderlei Miranda - Palhaço Orelha
Vanessa Galvao – RJ
Vanéssia Gomes – CE
Verônica Tamaoki -SP
Vinicius Longo - RJ
Willams Aris (Cia Anjos Voadores)
Willian Rodrigues (Companhia Circo Teatro Capixaba/Vitória/ES)
Willian Santana - PE
Wladimir Spernega – Presidente UBCI
Xisto Siman – MG

a culpa é do vento sul

Jussara Trindade (doutoranda UNIRIO)

Queridos amigos,
Depois dos últimos acontecimentos de Florianópolis, senti a necessidade de contribuir da maneira que sei fazer melhor: escrevendo sobre o que vi e vivi. Espero que o meu depoimento possa acrescentar algo às reflexões que vêm sendo socializadas na RBTR sobre a questão das lonas no Floripa Teatro.
A culpa é do vento sul
O primeiro espetáculo que assisti, durante o 16º Floripa Teatro, foi Boleba: vai pra rua, menino! do grupo carioca Te Conto Umas. No dia anterior, o céu era "de brigadeiro": nenhuma nuvem no horizonte. Lembro de ter perguntado a um dos motoristas da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes – entidade promotora do evento – se algum dos espetáculos seria apresentado na rua, pois a programação oficial mostrava apenas espaços fechados e lonas montadas em diversos pontos da cidade. Atencioso, o funcionário disse ser muito arriscado organizar um evento "a céu aberto" nessa época do ano, pois se chegasse um vento sul, "não havia cenário que ficasse em pé", explicou. Mas, como nesse momento o céu estava perfeitamente limpo e sem o menor indício de chuva, aquela parecia ser uma medida preventiva bastante exagerada.
Ironicamente, durante a madrugada o tempo começou a mudar, com a chegada repentina de um vento frio que trouxe nuvens cinzentas, anunciando chuva na cidade. Foi uma daquelas segundas-feiras que a gente deseja ficar em casa, lendo ou vendo televisão… mas a Lona do Campeche (onde seria realizado o espetáculo e uma oficina) não era tão longe do hotel onde estávamos todos hospedados, e eu contava com a especialíssima carona da companheira Ana Rosa Tezza, que viajara de carro desde Curitiba e estava, agora, cumprindo também a sua missão pelo Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua. Durante a apresentação de Boleba..., por volta das 15h, o clima foi-se alterando drasticamente; o vento fazia as lonas laterais baterem continuamente e a chuva, que iniciara fina, agora engrossava cada vez mais. Ao final do espetáculo, os atores demonstraram suas dúvidas quanto ao comparecimento dos quatorze inscritos em sua oficina, denominada "O encontro da narrativa com a música". Felizmente, a oficina foi realizada com sucesso, apesar do mau tempo e do frio crescente. Soube, então, que era esse o tal "vento sul"! No final, quando o público da segunda apresentação do dia (às 20h) já começava a adentrar a Lona do Campeche, percebi que toda a área em frente ao espaço cênico estava alagada, obrigando os técnicos de apoio a trocarem as cadeiras de lugar. Nesse momento, pareceu-me que aquela medida protetora não era tão exagerada quanto me parecera no início…
No dia seguinte, fui ao centro da cidade onde seria apresentada A farsa do bom enganador, pelo grupo paulista Buraco D'Oráculo. A lona, montada no Largo da Alfândega, contava com uma infra-estrutura muito maior que a do Campeche. Aí percebi, com mais clareza, que o excesso de zelo realmente pode descaracterizar um espetáculo de rua; o que se via ali não era apenas um abrigo sobre as cabeças dos atores e do público, mas a necessidade de todo um aparato de "segurança" (para proteger os equipamentos de iluminação, refletores, caixas de som etc que poderiam sofrer sérios danos com a chuva) e "conforto" (havia um camarim para os atores) que me pareceu realmente estranho, tanto ao contexto do teatro de rua, quanto às propostas éticas e estéticas daquele coletivo teatral que, tenho certeza, não se ajustam a tais exigências e que são, contudo, frequentes num teatro de tipo mais convencional. A platéia, organizada frontal e lateralmente, impunha limites retilíneos para a roda que o Buraco criara originalmente para o seu espetáculo, além de estabelecer uma distância indesejável entre atores e público. Enfim, aquilo que poderia ser apenas uma opção, em função da necessidade momentânea de abrigo em caso de mau tempo, transformou-se numa camisa-de-força ideológica que poderia até imobilizar o espetáculo, por subtrair dele justamente o seu elemento mais essencial e imprevisível – a rua! Felizmente, a competência e generosidade dos atores compensaram esses equívocos.
Depois dessa experiência, tenho a certeza de que ainda temos muito a elucidar sobre a nossa arte: esclarecer diferenças, superar distorções, explicar especificidades; um trabalho que vai além dos desafios da arte propriamente dita e alcança uma função, digamos, des-educativa. Quem, além dos próprios rueiros, poderá ensinar à nossa sociedade, preventiva e organizacional, que é justamente no risco, no imprevisto e na imperfeição, que reside o maior mistério? Sábios eram os arquitetos japoneses da Antiguidade que, diante da possibilidade constante de terremotos, aprenderam a construir suas casas com bambu, papel de seda e de arroz. Então, que venha o vento sul e leve os cenários embora; a rua permanecerá no lugar, e é isso o que mais importa no teatro de rua!

a rua e os espaços abertos

Por Amir Haddad (diretor fundador do Grupo Tá na Rua/RJ)
Há diferença entre rua e espaço aberto, embora evidentemente a rua seja um espaço aberto.
O teatro é uma arte pública; não nasceu necessariamente na rua, mas é uma arte de espaços abertos. Levar o Teatro para as ruas significa devolvê-lo a seu lugar de origem recuperando sua natureza de atividade pública que se realiza nos espaços abertos das cidades. Centro e Periferia. Recupera o conceito mesmo de espaços públicos para o encontro da população. Assim a idéia de espaço publico fica muito maior do que a idéia de rua, conforme a concebemos hoje nas cidades modernas.
Quando vamos às ruas para fazer algum trabalho, por menor que ele seja, sabemos muito bem que estamos retrocedendo na historia para avançarmos em direção a um novo tempo e a uma maneira muito nova, embora evidentemente muito antiga, de ocupação dos espaços públicos urbanos e de diálogo com seus cidadãos, sem nenhuma espécie de discriminação, a começar pelo custo do ingresso, absolutamente inexistente dada a natureza publica do evento. Pensamos uma outra cidade e portanto um outro futuro. Mas encontramos grandes dificuldades para implantação destas pequenas Utopias. As políticas publicas oficiais são extremamente privatizadoras e excludentes, e as praças e ruas cada vez mais perdem suas características de lugares públicos para o convívio urbano indiscriminado e se transformam em espaços fechados onde o cidadão não encontra abrigo.
Desde sempre as manifestações de vida têm sido confundidas com desordem. O que mobiliza imediatamente uma reação contraria, a favor da ordem. Nesta "reação" as cidades e suas ruas vão sendo limpas e saneadas e neste "arrastão" da ordem vai de entulhada tudo o que as ruas ou as cidades poderiam estar produzindo de novo ou surpreendente.
Sonho com uma cidade luminosa onde a criatividade humana possa se manifestar livremente sem estar submetida aos controles ideológicos, artísticos, morais e administrativos a que hoje estas manifestações estão sujeitas. Santa Catarina tirou os malabaristas dos sinais luminosos, o Ademir Leão, que toca Sax nas ruas do Rio foi proibido de tocar, voltou por exigência popular. Por força de meu oficio foi grande meu contato com o "povo de rua" , de toda espécie. Como diria Galileu Galilei, não foi pouco o que eu aprendi com esta gente. Porém, pelo andar da carruagem não será esta a cidade que iremos desenvolver, e sim outra "perfeitamente" asseada e saneada onde qualquer homem branco dominante possa andar sem perigo de ser ameaçado. Conseguiremos esta "perfeição" étnica, política, racial, como queria Hitler?
Se tivéssemos tantos artistas nas ruas como temos desempregados, marginais e policia nossa cidade seria melhor. Ou será que achamos que vivemos no melhor dos mundos e que basta limpá-lo para mantê-lo em "ordem"?

carta de florianópolis




Os articuladores da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA reunidos em Florianópolis, no dia 19 de agosto de 2009, dentro da programação do Floripa Teatro – Festival Isnard de Azevedo, no evento intitulado "II Encontro de Teatro de Rua da Região Sul, com a presença de 25 articuladores dos Estados de SP, RJ, SC, PR e RS, manifestam-se contra a Portaria da atual gestão da Prefeitura da cidade de Florianópolis que proíbe a atividade de artistas-trabalhadores no espaço público aberto da referida cidade. A Portaria é arbitrária e fere a Constituinte Brasileira – dos Direitos e Garantias Fundamentais Capítulo I dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos no Paragrafo IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

A Rede Brasileira acredita na livre atividade dos artistas-trabalhadores nos espaços públicos e essa Portaria mostra-se como um perigoso retrocesso no atual quadro democrático que o Brasil já atingiu.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo e está presente em vinte e um Estados, que desde já tomam conhecimento deste fato e assinam abaixo juntamente com outras instituições representativas de Circo e de Teatro espalhadas por todo território nacional.


Rede Brasileira de Teatro de Rua
Rede Estadual de Teatro de Rua – RJ
ABRACIRCO - CAMILO TORRES - VICE-PRESIDENTE.
Academia Mineira de Ilusionismo- AMI - Mágico YAGO
Cooperativa Paulista de Circo – Diretoria
Cooperativa de Circenses da Bahia
UBCI - UNIÃO BRASILEIRA DE CIRCOS ITINERANTES - Wladimir Spernega – Presidente
Federação de Teatro do Acre - FETAC
Grupo Off-Sina - RJ
Buraco D'Oráculo - SP
Brava Companhia - SP
Circo Navegador - SP
Grupo Teatral Manjericão - RS
Rosa dos Ventos - SP
Arte da Comédia - PR
Grupo Stravaganza - RS
Cia de Capadócia - SP
Sua Majestade o Circo – Alagoas
Robson Mol - AL
Grupo Raízes do Porto Porto Velho/RO
Suely Rodrigues - RO
Circo Teatro Girassol -POA/RS
Dilmar Messias - RS
Circo Mínimo –SP
CEFAC – Centro de formação Profissional em Artes Circenses
Rodrigo Matheus - SP
Galpão do Circo (Escola de Circo de São Paulo - SP)
Alex Marinho - SP
Cia Anjos Voadores
Willams Aris
Seres de Luz Teatro –SP
Liliana Marcela Curcio e Cristino Abel Saavedra - SP
Troup Trama Circus - MG
Edson de Mello (Dimello)
TRUPE ARLEQUIN DE CIRCO TEATRO - PB
Trupe Estação do Circo (São Carlos - SP).
Ricardo Fruque - SP
Trupeniquim - Cia de Circo
Richard Riguetti - RJ
Lilian Moraes -RJ
Luiz Carlos Buruca - RJ
Crescer e Viver - RJ
Junior Perim- RJ
Ermínia Silva - SP
Mari Morango
Circo Dux -RJ
Fabricio Dorneles -RJ
Lucas Moreira - RJ
Cia Entropia de Patifaria - MG
Cícero Silva - MG
Núcleo Boa Praça - RJ
Companhia 2 Banquinhos - RJ
André Garcia Alvez - RJ
André Luis Soares - RJ
Leo Carnevale - RJ
Luanda Morena -RJ
Vinicius Longo - RJ
Xisto Siman - MG
João Pinheiro - MG
Paulo Santana - MG
Leonardo Silva - Produtor Cultural
Gyselle Andrade Freitas
Grupo LaMínima de Circo e Teatro de SP
Domingos Montagner SP
Fernando Sampaio - SP
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, de São Paulo
Marcos Pavanelli - SP
Simone Pavanelli – SP
Barracão Teatro - Campinas
Tiche Vianna -SP
Esio Magalhães -SP
Grupo de Teatro/Circo DE PERNAS PRO AR – Canoas-RS
Raquel Durigon
Luciano Wieser
Duico Vasconcelos
Trupe Estação do Circo (São Carlos - SP)
Ricardo Fruque -SP
Majestade o Circo/Alagoas
Circo Trapézio da Família Cericola – RJ
Tuca Cericola - RJ
Verônica Tamaoki -SP
Grupo Timbre de Galo de Passo Fundo, RS
Guto Pasini - RS
Iracema Pires -RS
GRUPO DE TEATRO RERIGTIBA, de ANCHIETA – ES
Telma Amaral - ES
Grupo Arteatro – Paraty / Mangaratiba
Ailton Amaral - RJ
Companhia Circo Teatro Capixaba – ES
Willian Rodrigues -ES
Ananda Rasuck - ES
Samuel Rasuck - ES
Naiala Rasuck - ES
Diego Elias Baffi
Duico Vasconcelos
Elsa Wolf
Ermínia Silva SP
Netty Palácios
Teatro de Cordel - RJ
Edmilson Santini - RJ
Grupo do Balaio - Circo Intervenção Circo do Balaio
Movimento Livre Leste - união de 11 grupos de circo, teatro, dança, música, performance e outras artes
Leandro Hoehne - artista
Grupo de Teatro/Circo DE PERNAS PRO AR
Canoas-RS
Raquel Durigon e Luciano Wieser
Grupo Teatro caretas – CE
Vanéssia Gomes – CE
NACE - Núcleo transdiscilinar de Pesquisa em Artes Cênicas e Espetaculares - Maceió – Alagoas
Nara Salles – AL
Grupo Z de Teatro – ES
Fernando Marques – ES
Jussara Trindade, do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua – RJ
O Teatro Terceira Margem - BH/MG
Cristiano Pena – MG
A Cia Elenco de Ouro ( Curitiba/PR)
Cleber Braga – PR
Elsa Wolf
ERRO Grupo – SC
Pedro Bennaton - SC
Oigalê – RS
Gian Carlos Magno – RS
Cia de Teatro Nu Escuro - Goiânia/GO
Hélio Froes – GO
Diego Elias Baffi
Cia. Crônica de Teatro - Contagem/MG
Jesse Duarte – MG
Trupe Olho da Rua – SP
Caio Martinez – SP
O Circo e Teatro de Rua Os Mamatchas, de Presidente Prudente-SP
Trupe Artimanha - SP
Grupo Teatral de 4 no Ato - RJ
Gilvan Balbino - RJ
Pâmela Vicenta – RJ
Cia Mimicalado – Campos do Jordão
Beatriz e Leandro Calado – Campos do Jordão
Raquel Franco - MCTR-MA
Tapete Criações Cênicas – MA
Michelle Cabral - Cia. Chegança - São Luís/MA
Cia dos Inventivos de São Paulo
Flávio Rodrigues – SP
Lis Nobre – Grécia
Rogerio Sette Camara
Spasso Escola Popular de Circo - BH- MG
Silvana Abreu- atriz, diretora e produtora teatral - São Paulo/SP
IntrépidaTrupe - RJ
Vanda Jacques – RJ
Grupo Sítio do Jeca – SP
Reinaldo Facchini – SP
Grupo Cutucurim - Angra dos Reis - RJJoão Novaes – RJ
Alaor de Carvalho
Netty Palacios
Teatro Itinerante – RJ
EncantaConto
Contadores de Histórias
Dalisa Campos
Willams Aris - Cia Anjos Voadores
Cia. d'os melodramáticos – RJ
Vanessa Galvao – RJ
Licko Turle – RJ
Michelle FrançaHorácio Storani
Cia Circular – RJ
Erika e Dodô – RJ
Teatro de Roda - RJ
Mariozinho Telles – RJ
Grupo Teatro Kabana de Sabará – MG
Mauro Xavier – MG
Thiago Salles – Campinas – SP
Circo Teatro Girassol - POA/RS
Dilmar Messias – RS
Teatro de Anônimo – RJ
João Carlos Artigos – RJ
Como Lá em Casa - MTR/SP
FRANCISCO GASPAR – SP
Cia Teatro Porão - RJ
Andréa Cevidanes – RJ
Coletivo Nopok do Rio de Janeiro
CENTRO SÓCIO-CULTURAL DE PROMOÇÃO À CIDADANIA - CARCARÁ (Pernambuco)
Willian Santana - PE

carta de arcozelo


Reprodução da carta do V Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, que ocorreu em abril, na Aldeia de Arcozelo, Rio de Janeiro.
Leia abaixo:

"A Rede Brasileira de Teatro de rua reunida na Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de
Janeiro, após 509 anos de domínio ideológico, resgatando a importância histórica e, inspirado
no sonho do saudoso Paschoal Carlos Magno, vem afirmar por meio deste documento a luta
pela possibilidade de uma nova ordem, por um mundo socialmente mais justo.

Nos dias 20, 21 e 22 de abril de 2009, no seu 5º encontro, a Rede reafirma sua missão: de lutar
por políticas públicas culturais com investimento direto do Estado em todas as instâncias:
municípios, Estados e União, para garantir o direito à produção e o acesso aos bens culturais a
todos os cidadãos brasileiros.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é um espaço
físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os
artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores
para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.

O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma presencial e virtual,
entretanto, toda e qualquer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus
membros farão, ao menos, dois encontros anuais. Os articuladores de todos os Estados, bem
como os coletivos regionais, deverão se organizar para participarem dos Encontros.

Os articuladores da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA dos estados do AC, AL, CE, BA, ES,
GO, MA, MG, PA, PR, RJ, RR, RN, RO, RS e SP, com o objetivo de construir políticas públicas
culturais mais democráticas e inclusivas, defendem:

• A representação do teatro de rua, nos Colegiados Setoriais e Conselhos das instâncias
municipal, estadual e federal;

• A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, que vincula para a cultura, o
mínimo de 2% no orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito
Federal e 1% no orçamento dos municípios;

• O direito a indicação de representantes do teatro de rua nas comissões dos editais
públicos;

• A extinção da Lei Rouanet e de qualquer mecanismo de financiamento que utilize a
renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar
através do financiamento direto do Estado, por meio de programas e editais em forma
de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade; Para tanto em
apoio ao movimento 27 de março sugerimos modificações no PROFIC (anexo);

• A criação de um programa específico que contemple: produção, circulação, formação,
registro, documentação, manutenção e pesquisa para o teatro de rua;

• Que os espaços públicos (ruas, praças e parques, entre outros), sejam considerados
equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais de políticas
públicas e no Plano Nacional de Cultura;

• A extinção de toda e qualquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para
as apresentações de teatro de rua garantindo assim o direito de ir e vir e a livre
expressão artística;

• Queremos construir uma política de Estado em contraponto a políticas de eventos que
o mercado vem nos impingindo. As iniciativas de governo em criar editais para as artes
devem ser transformados em leis para a garantia de sua continuidade.

O Teatro de rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além
de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, instituímos o
dia 27 de março, dia mundial de teatro e circo, como o dia de mobilização nacional por
políticas públicas e conclamamos os artistas-trabalhadores e a população brasileira a lutarem
pelo direito á cultura e a vida".

"O país se apresenta pelo teatro que representa"
(Paschoal Carlos Magno)

22 de abril de 2009
Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de Janeiro
Rede Brasileira de Teatro de Rua

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

carta da rede brasileira de teatro de rua sp


A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos. O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma virtual, entretanto toda e qualquer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus membros farão, ao menos, dois encontros anuais. Os coletivos devem se organizar para enviarem articuladores para os encontros presenciais. O papel de cada integrante é ampliar a rede através da criação de movimentos regionais de teatro de rua, bem como da manutenção dos já existentes. A missão da Rede Brasileira de Teatro de Rua é lutar por políticas públicas de cultura com investimento direto do Estado em todas as instâncias: Municípios, Estados e União. E para garantir o acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros a Rede Brasileira de Teatro de Rua tem por objetivo promover também a produção, difusão, formação, registro, circulação e manutenção de grupos de teatro de rua e de seus fazedores, construindo assim um país mais justo. Os articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua dos estados AC, AM, CE, BA, ES, GO, MA, MG, PA, PE, PR, RJ, RR, RN, RO, RS, SC e SP reunidos nos dias 14, 15 e 16 de novembro de 2008, em São Paulo, no 4º Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, vêm através deste documento, afirmar ações e propostas, exigindo assim: · A representação do teatro de rua, no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC); · A representação do teatro de rua, no Colegiado Setorial; · A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, que vincula para a cultura, o mínimo de 2% no orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios; · O direito de indicação de representantes de teatro de rua nas comissões dos editais públicos; · A extinção da Lei Rouanet e de qualquer mecanismo de financiamento que utilize a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do estado, por meio de programas e editais em forma de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade; · A criação de um programa específico que contemple: produção, circulação, formação, registro, documentação, manutenção e pesquisa para o teatro de rua; · A criação imediata de um edital para a circulação de espetáculos de teatro de rua, constituindo-se assim um circuito nacional de teatro de rua; · Que os espaços públicos (ruas, praças e parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais de políticas
públicas e no Plano Nacional de Cultura; · A extinção de toda e qualquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de teatro de rua garantindo assim o direito de ir e vir e a livre expressão artística conforme nos garante a Constituição Federal Brasileira no artigo 5º; · A criação de um programa nacional de ocupação de imóveis públicos ociosos, para sediar o trabalho e a pesquisa dos grupos de teatro. O teatro de rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, conclamamos a todos os artistas-trabalhadores e a população brasileira para a mobilização nacional da Rede Brasileira de Teatro de Rua, no dia 27 de março de 2009, no intuito de construir políticas públicas para esta arte.
São Paulo, 16 de novembro de 2008.Rede Brasileira de Teatro de Rua