segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dia 16/12/2010 – Quinta-feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra


25º dia da Jornada. Hoje apresentaremos juntamente com Nivaldo fazendo o Dorminhoco. Fiquei pela manhã organizando o material do espetáculo enquanto o pessoal da produção foi na rádio dar a entrevista e falar do projeto. Meio dia veio almoçar com a Trupe Banzeirando o Bosco Borges, artista e produtor cultural da cidade de Itacoatiara que fica algumas horas de Manaus. Bosco é velho conhecido nosso e está na cidade para ser o apresentador do Fecanon, fugiu da agenda de divulgação e veio prosear durante o almoço e marcar apresentações em Itacoatiara no dia de Natal. Chegando à tarde, lá pelas 13:30 desabou uma chuvarada que só estancou lá pelas 16h. Material pronto e logo Chicão, Thallisson, Sidnei Oliveira, Sidnei Dias, Vrena e Léo se deslocaram com equipamento de som pro local das apresentações, a praça em frente a igreja matriz.
Subimos a escadaria de Nova Olinda do Norte com um vento forte, olhamos o horizonte notamos que o céu estava mais escuro e sem estrelas, poderia chover novamente! Caminhamos na avenida principal convidando as pessoas, chegando à praça esperamos o Dorminhoco terminar a sua intervenção. Como o tempo estava em suspenso e a Ane não estava se sentindo muito bem, resolvemos cortar os números circenses do inicio, pois estes exigem mais vigor físico e o tempo seria menor em caso de chuva. Começaríamos então direto na peça teatral, porque São Pedro, assim como em Caiçara, estava mais uma vez olhando pra nós.
Saímos em cortejo e invadimos a praça central, entramos na roda de pessoas que o Dorminhoco já estava e juntamos com o público que trazíamos na bandalheira produzida pelos palhaços. Apesar do tempo estranho de uma noite fria e com nova chuva em formação, no meio da apresentação já tínhamos dobrado o público inicial. Perto do final veio um vento mais forte, mas o público na arredou o pé e manteve-se firme até o final do espetáculo com as gargalhadas provocadas pelo pacientoso palhaço Brigela. Terminamos bem, sem chuva e praça cheia. No final da noite fomos jantar fora e a chuva despencou de vez, a temporada de chuvas no norte se avoluma.
Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

Dia 15/12/2010 – Quarta-feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra


Dia nasceu e a viagem para a cidade de Nova Olinda do Norte iniciou. Quase três horas depois chegamos nesta cidade grande. Depois de muitos dias é que vi novamente um avião sobrevoar os céus. Amanheci mal do fígado e estômago devido a algo que comi, fiquei dia todo recolhido num canto só nos líquidos e dieta equilibrada que Dona Branca fazia na cozinha. Mais pessoas ficaram com certos problemas de saúde nesta jornada. Aprendi que deve-se mencionar também um pouco dos problemas que ocorrem com as pessoas quando em viagens longas, pois estas “sujeiras” na escrita mostram que nem tudo foi perfeito ou um paraíso turístico. Além da nossa labuta diária, seja apresentando ou não, todas as atividades provocam cansaço e por vezes a exaustão. Estamos vulneráveis a qualquer tipo de doença pelas dificuldades de se viver por aqui. Não somos como os barqueiros e ribeirinhos cuja resistência é superior a nossa e onde historicamente milhares de pessoas morreram por questões de saúde nesta região, durante o ciclo da borracha e outros períodos que resultaram na formação do povo daqui. Hoje estou mal do estômago e o Léo está com virose há três dias, fica acamado passando da rede pro colchão e vice-versa, Pão de queijo (sempre ele!) providenciou um colchão e colocou a disposição para usar no chão do segundo piso do barco.
Outros colegas também adoeceram antes, no inicio a Anelise sentiu a pressão um pouco baixa e assim ficou num mau estar por dois dias levantando a suspeita de dengue. Depois a certa altura da jornada Chicão sentiu um problema no fígado e por dois dias ficou mais de repouso, também Samir teve febre bastante alta por dois dias devido à garganta. Em seguida foi o Tancredo que chegou a ir ao médico na cidade de Humaitá, foi no posto de saúde e depois de um chá de banco desistiu e foi a um particular (lembrou a peça O Dilema do Paciente) e o diagnóstico foi que estava com anemia. Thallisson contraiu uma virose fortíssima e ficou uns três dias acamado, só conseguindo ingerir caldos e sopas. Já Sidnei Oliveira levou dias para se livrar de uma gripe insistente. Mais tarde Dona Branca contraiu uma virose que até hoje ainda persiste, na seqüência foi nossa cozinheira a Vânia, filha da Dona Branca. Ainda em cuidados Léo já se recupera e logo estará na rua produzindo riso. Várias vezes me lembrei das amigas de Belém, Wlad Lima e Suani Correa, dizendo que era preciso que estivéssemos muito bem preparados física e psicologicamente, com a saúde em dia pra este tipo de jornada. Acredito que estamos, pois foram poucos os casos se levar em conta a grandeza da diversidade climática da região. Há dias muito quentes e outros bem frios, dia ensolarados e outros de chuvas torrenciais. Os chuveiros são sem resistência elétrica, e o banho só com a água do rio, ou seja, gelada na maioria das vezes e sem tratamento . Haja organismo sadio para suportar! Na maioria das localidades existe posto de saúde, mas os médicos só atendem uma vez por semana.
Nesta cidade o pessoal da produção tentou utilizar duas lan houses, mas a lentidão irritante os fez desistir. Embora já estejamos mais próximos da capital as comunicações continuam uma precariedade absurda e mais uma vez me lembro das dificuldades do povo do norte nos processos de inscrição on line nos editais do governo federal, bem como na dificuldade de enviar material pelo correio. O proponente tem que mandar o projeto com muitos dias de antecedência, pois a correspondência vai de barco, juntamente com passageiros e cargas que param de localidade em localidade e muitas vezes há as dificuldades e surpresas que o rio Madeira proporciona. Então se torna absurda a luta de um artista em certas áreas do norte do Brasil, as instâncias promotoras de incentivo a cultura, educação, etc, precisam urgente se voltar para essas especificidades regionais!
À noite eu, Chicão e Nivaldo saímos pra conversar com o secretário de cultura que não foi no horário marcado, pois estava envolvido nas festividades de aniversário de 55 anos da cidade e no 11º FECANON – Festival da Canção de Nova Olinda do Norte. Mas Chicão já tinha conversado com ele e inclusive marcado uma hora na rádio da cidade para falar do projeto Banzeirando e das apresentações amanhã pela manhã. Quando fomos à pizzaria da cidade encontramos os demais colegas e depois de horas passou por lá o secretário que conversou rapidamente sobre as dificuldades da cultura e os projetos que tem para cidade e logo partiu pra casa, com a janta comprada ali.
Pra fechar a noite quando vi estávamos assistindo um filme na TV de um barzinho. Fazia tempo que não assistia um filme, só teatro e mais teatro. O sono bateu e logo todos estavam rumando pro barco. Amanhã é outro dia.
Vamo que vamo!!


Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão