quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dia 03/12/2010 – Sexta – Feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra

Neste dia manteremos a função produção local e atualização dos ambientes virtuais, pois a internet na cidade é muito lenta. Devido à cidade estar cheia de visitantes também ficou concorrida a lan house. Na produção das apresentações Chicão procura negociar com os homens do poder para participarmos das atividades do festejo, mas parece que não têm interesse. Essas instâncias nunca entendem direito o valor da arte do teatro nestes eventos, o mais cômodo é dizer não, e quando dizem sim relegam o teatro à margem das atividades principais. Chicão negocia pelas bordas, amanhã teremos apresentações dentro de determinadas atividades. Há um bingo que ocorre o tempo inteiro, nos intervalos haverá intervenção de Léo e Tancredo.
Dia chuvoso, mas assim mesmo chegam muitos barcos com pessoas e trabalhadores para a festa. Nestes dias em que não há apresentações, só produção destas, aproveitamos pra conversar sobre muitos assuntos que tangem o universo do teatro. Hoje por um tempo fiquei conversando com o Vrena, artista plástico, professor de teatro e nosso pesquisador de plantão, sempre observando e analisando as relações entre os artistas do Banzeirando e as localidades visitadas. Vrena estava mirando uma paisagem, perguntei o que analisava e disse que estava guardando no cérebro esta imagem para pintá-la. Era uma paisagem que começava com quatro canoas próximas ao nosso barco, depois as embarcações de tamanhos médio e grande, terminando ao fundo com as margens distantes do rio, onde se via antes a ponte do cais da cidade. Disse que pintaria diferente, como se fosse há muitos anos atrás, com o barranco cheio de árvores frondosas e sem a ponte e o cais. Percebi que o Vrena, ambientalista e testemunha ocular das mudanças do rio, queria resgatar na sua pintura aqueles tempos em que a Floresta Amazônica não tinha sofrido ainda a violência do chamado progresso brasileiro.
Vrena descreveu com profundo conhecimento os traços luminosos da paisagem, destacando o contraste do claro e escuro. Dali foi um pulo para falarmos de iluminação teatral. Discorreu sobre a importância da luz nas artes: visuais, teatro, cinema, dança, fotografia, e o quanto os artistas deixam de lado sua importância. A luz é definidora do que o espectador vai ver e imaginar a partir do que vê. Falei que me lembrava das aulas da disciplina de cinema, há muitos anos na graduação de teatro na UFRGS com o Professor Sergio Silva, quando dizia que a iluminação é tudo! Citava desde a frase célebre da bíblia “Fiat Lux!”, Faça-se a luz! Até o cineasta Kiarostami e os primores detalhistas de sombra e luz de seus filmes. Logo Vrena discorreu sobre a Semiótica da luz e do teatro, e os respectivos pontos de vistas do que estamos realizando aqui. Buenas, encurtando assunto, pois levaria laudas e mais laudas, literalmente foi uma aula à beira do rio Madeira com este mestre.
À noite vamos curtir o movimento da festa, saímos todos juntos, pois é aniversário da Vânia Passos, filha do comandante. Bebo uma cerveja suja, ninguém é de ferro, na folga a gente bebe algo mais forte. Cerveja suja, que só tomei conhecimento em Rondônia, é a mistura de cerveja com limão (forte) gelo e sal (às vezes demais). O curioso é que em toda borda do copo há sal também, lembra muito o processo de beber tequila. Então a pessoa quando bebe na borda do copo toma aquela mistura mega salgada, até que fica boa, hehe, ou se preferir menos salgada pode também usar canudinho. Mas não consigo tomar duas! Chega, já é hora de voltar para a barca banzeirando, amanhã é outro dia.
Vamo que vamo!!

Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

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