quarta-feira, 16 de março de 2011

Dia 20/12/2010 – Segunda-Feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra


O período da manhã foi curto, pois acordamos tarde desta vez, nos permitimos dormir um pouco mais que o de costume, afinal o projeto foi puxado até aqui e era preciso estar descansados e concentrados para a avaliação ainda na parte da manhã. Após o café subimos para parte de cima do barco, o dia era chuvoso, lonas baixadas nas laterais, cada um na sua cadeira numa roda media. Numa das extremidades havia o banner do projeto e uma filmadora, cada um teve seu depoimento gravado. Depois partimos pra uma avaliação mais coletiva, avaliando os prós e os contras. Tivemos choros e risadas, rememoramos momentos hilários e tristes. Discussão e desentendimento sempre há em qualquer lugar, não seria diferente num projeto desta grandeza e importância. Onde, de certa forma, quase tudo é feito de forma coletiva e o único espaço privado que se tem é o espaço de uma rede de dormir. Mas sobre tudo prevaleceu os bons acontecimentos, pois somos humanos. Lembro que usei duas metáforas para compreensão do que representou para mim os trinta dias de barco pelos rios da Amazônia. Uma foi a já citada outro dia, a importância de se sentir na terceira margem da cena teatral brasileira, onde dentro de um barco pelos rios do norte pude entender o que é fazer teatro nesta região e me entender como artista e a arte que faço. Saio mais lúcido e com maturidade ímpar sobre o país em que vivemos, essa diversidade cultural espantosa que merece respeito e mais atenção. A outra metáfora foi a partir de um breve conto do escritor Eduardo Galeano, onde descreve o momento em que um pai realiza o desejo de seu filho levando-o pela primeira vez para ver o mar. Diante da imensidão do oceano, o filho olha pro pai e diz: - Pai me ajuda a ver? Assim me senti diante desta imensa floresta, dos rios de grandes extensões, da diversidade de etnias e costumes, tradições e estilos ímpares de vida e sobrevivência. Eu sou o menino do conto e agradeço muito a todos por me ajudarem a ver tudo isso e o que mais ainda estiver ao alcance da nossa arte.
O que disse a pouco foi enquanto indivíduo dentro de um coletivo chamado Manjericão, dentro de outro coletivo chamado Banzeirando. Mas tenho certeza a partir dos relatos de Anelise e Samir que para ambos também foi um momento ímpar na vida estes trinta dias. O Manjericão apresentou em todas as localidades centralizadoras de grande porte, realizamos apresentações maravilhosas outras nem tanto, mas faz parte do jogo cênico de nossas vidas. Não depende só do ator mas sim de um conjunto de fatores para uma apresentação ser boa ou não. E tudo pode ser relativo, para o grupo pode não ter sido uma grande apresentação, mas para alguns espectadores pode ter sido até aquele momento, e talvez por um bom tempo depois, algo muito importante em suas vidas. Não temos o parâmetro nem a medida das coisas para saber, eis a efemeridade de todas as coisas humanas e vivas. Em suma foi um marco histórico em nossa existência sem dúvida, mudamos muito a partir daqui, o teatro transforma o artista constantemente!
Após a reunião que terminou de forma monumental e alegre, ríamos quando Chicão deu por encerrada a avaliação e desabou um toró de água incrível. Caiu o céu em forma de chuva. Descemos já com um pouco de frio e lá estava o almoço, um peixe assado na brasa, tambaquis de ótimo sabor. Pela tarde após a descansada na rede começamos a arrumar as coisas pessoais, amanhã chegaremos em Manaus e o Comandante Nossa senhora Aparecida ficará num estaleiro para conserto do equipamento detonado pela árvore gigante. Desde o acidente estamos navegando sem determinadas peças junto as hélices e leme, por falta de tempo e estaleiros bons. Os de Manaus são os melhores. Será uma longa jornada dia inteiro adentro do maior rio do Brasil.
Vamo que vamo!!


Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

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