domingo, 2 de janeiro de 2011

Dia 09/12/2010 – Quinta-feira / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra



Amanhece um dia espetacular, ensolarado, muitas embarcações com produtos chegando, uma multidão de pessoas, são passageiros em viagem e carregadores, o porto se transforma num imenso formigueiro. Léo e Chicão já estavam na escola para a apresentação no meio da manhã. Quando as apresentações são em escolas é preciso ir com horas de antecedência para providenciar camarins, geralmente a sala de orientação pedagógica ou sala da direção, também verificar melhor local e posição no espaço do pátio conforme o número de alunos. Quase meio dia voltaram dizendo que a apresentação foi muito boa e o público estava ótimo.
No meio da tarde foi a vez do Manjericão. Na maioria alunos de ensino médio, estávamos no camarim em preparação quando ouvimos um estrondo seguido de muitas risadas, corremos a porta pra espiar e levantavam um aluno, de estatura grande e peso igual, que ao sentar quebrou uma cadeira branca de plástico. Todos riam dele, mas manteve a pose, escorou no pilar e ficou ali nos esperando. Começamos a apresentação na velocidade mil. Brincamos com o menino da cadeira pra deixá-lo mais a vontade. O público estava afinadíssimo nos aplausos intermináveis, foi atenção total na trama da peça, no final fomos ovacionados. Saiu faísca tchê! A noite foi à vez do Tancredo e do Nivaldo, para um público repleto de adultos. Gargalhavam pontuadamente, no tempo que esses comediantes conduziam. No final todo povo do Banzeirando elogiou muito a limpeza da escola que não possuía lixeiras no pátio. Todo lixo ficava com os alunos ou na lixeira da sala de aula. Ah! Se todas as escolas e alunos deste Brasil fossem assim, a consciência ecológica do povo brasileiro seria outra!
Uma curiosidade interessante. Após nossa apresentação fomos dar entrevista pra Rede Amazônica de TV e um dos repórteres acompanhou o Chicão até o barco para ver se ficávamos mais um dia para novas apresentações e oficinas, mas não podíamos. Depois de um tempo começou a falar da origem do nome da cidade. Há uma festa anual chamada Festa da Deusa, pensei na hora que nome forte para uma festa, lembrava algo ritualístico. É exatamente isso, uma festa de culto a Deusa Mani. Reza a lenda que nasceu uma índia albina e logo todos da tribo acreditaram que era uma Deusa. Por ser branca como a Mandioca, Mani oca para os índios na época, chamaram-na então de Deusa Mani. Assim a cidade, anos depois, foi batizada de Manicoré – Filhos de Mani. Realmente todos na cidade têm marcantes aspectos e traços indígenas.

No período do final da tarde, após a apresentação do Manjericão, quando chegamos “em casa”, no barco, notamos a onipresença da embarcação Comandante Cândido I, de Manaus, a maior que já vimos até o momento, Nivaldo falou com o proprietário e logo um grupo de curiosos já estava lá contemplando e ouvindo atentamente o Seu Candido explicando toda estrutura e seu império de negócios com embarcações. Todos de queixo caído com a rotina necessária para manter esta nave de quase quatro andares para passageiros e um porão para muitas toneladas de produtos. Sem dúvida tínhamos em nossa frente um homem de visão.

Mas o que nos deixou mais embasbacados não foi o fluxo de dinheiro que gera sua frota de barcos e sim o respeito profundo que tem para com seus empregados. É daqueles patrões que come junto com os funcionários, não tem luxo, embora o barco possua camarotes impecáveis. Cumpre pontualmente os pagamentos semanais, após cada viagem faz questão de pagar pessoalmente um por um dos mais de vinte empregados. Se há uma festa no seu sítio, próximo a Manaus, não poupa dinheiro pra ver seus empregados (ou seriam quase sócios?) felizes com a vida que levam. Poderíamos desconfiar do que diz, mas há dois motivos que não deixa dúvida no que fala. Uma delas percebi logo que entramos na embarcação, Seu Cândido estava entre os funcionários e quando levantou pra nos cumprimentar quase não acreditei que ele era o dono daquele prédio flutuante, mais parecia um dos carregadores de pencas gigantes de bananas. Estilo bonachão, simples e cordial. A outra foi o Nivaldo que destacou, Seu Cândido é tão feliz no que faz com empenho e dedicação que está sempre sorrindo. Isso mesmo, até quando o assunto é sério sobre as dificuldades dos produtores e moradores do norte, sobre o Programa Luz pra Todos do Governo Federal, ele está lá com o sorriso estampado de orelha a orelha. Descemos depois de mais de uma hora conversando, nos deu adeus como se fosse um amigo de muitos anos. Nos convidou para quando chegarmos em Manaus conhecer o Cometa, sua outra embarcação que realiza passeios fretados para turismo. Pela descrição parece dar de dez nesta que conhecemos há pouco! Eis um homem feliz com a vida que leva.
Amanhã partimos para Novo Aripuanã. Outra grande cidade do interior do Amazonas.

Vamo que vamo!!




Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

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