sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dia 28/11/2010 - Domingo / BANZEIRANDO – Uma Jornada Teatral pelos Rios da Amazônia / Diário de bordo e terra


Saímos cedo do Distrito de Nazaré e aportamos no Distrito de Santa Catarina. Havia grande expectativa com relação a esta localidade por dois motivos. Foi onde O Imaginário realizou parte da pesquisa do espetáculo “Filhas da Mata” e o Documentário “Arte Beiradeira”, sobre as mulheres artistas do baixo madeira. E também devido aos casos misteriosos e a magia em torno do local. Aqui há o cemitério onde foi sepultado o Barão Abelha, um navegante português que foi figura ilustre no ciclo da borracha. Cuja filha, Catarina, após fugir com um mateiro (homem que abria picadas na floresta durante o ciclo da borracha) teve um filho e depois de um tempo enlouqueceu, vindo a se matar na cachoeira, onde, dizem, homens não podem sentar nas pedras. Os que sentaram quando voltaram pra cidade tiveram febre e faleceram.
Pela manhã Chicão e os demais integrantes d’O Imaginário foram ao cemitério, já à tarde inventamos de ir à cachoeira. Chicão conseguiu dois guias mirins, curumins do local que nos guiaram como se brincassem numa pracinha da cidade. Raimundo e Erivani tentaram inclusive nos assustar, aceleraram o passo e os perdemos de vista quando de repente surgiram ao nosso lado, gritando, camuflados na mata.
Floresta densa, cheias de árvores frutíferas como Castanheiras e Tucumãs. A placa na comunidade dizia 5 km até a cachoeira, caminhamos por uma hora e meia e chegamos num lago, lá teríamos que pegar canoas para atravessá-lo depois mais 2 km de caminhada até a cachoeira. Cansados e sem possibilidade de irmos remando, pois não havia remos suficientes e as canoas estavam cheias de água, uma delas estava até com peixe dentro. A vontade de encerrar a aventura por ali já era grande quando pensamos também na volta, pois se a ida deu cansaço, imagina a volta! Quando saímos da comunidade, Raimundo estava com uma mochila preta nas costas e perguntamos o que tinha nela, disse que era material para chuva! Estava um solão de rachar e eles já previam que choveria à tarde, o que de fato aconteceu na volta. É! Coisas da Amazônia! Há uma relação profunda e sinestésica do povo ribeirinho com a Floresta. Havíamos saído por volta das 10h, voltamos em torno das 14h. Uma aventura inesquecível. Na volta choveu muito por alguns minutos e não nos molhamos devido a mata fechada. A maioria na chegada ficou detonado de cansaço nas pernas e assaduras. Eu nada senti a não ser mais tarde que vi um dos dedos do pé arrebentado. Havia dado uma topada num toco e só depois de horas vi o dedo degolado. Passei a noite mancando e fazendo curativos.
Chegada a noite, Chicão e o povo todo envolvido na preparação do local para a projeção do documentário e a intervenção do Léo Carnevale. Foi numa área coberta, estilo quiosque de praça onde estavam instalados refletores, a tela e o projetor.
O povo foi chegando, poucos, pois a maioria neste domingo foi para um evento que estava acontecendo em Porto Velho.
Mas o importante foi ver que a Nazaré, moradora local que fez parte do documentário, assistiu e recebeu do Chicão uma copia do filme. Após, o Léo fez a sua intervenção com o Afonso Xodó, realizou uns números de mágica com ótima participação do público e encerrou as atividades na localidade.
Amanhã, segunda-feira 29 de Novembro, partimos para a casa de Dona preta.
Vamo que vamo!!
Márcio Silveira dos Santos
Grupo Teatral Manjericão

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